Você precisa se perder na cidade

Quando temos um roteiro pronto e fechado, existe uma ilusão de garantia que tudo vai correr da forma como foi planejado. Porém, o segredo de uma viagem surpreendente está exatamente no oposto. É necessário se perder.

Falar em se perder tem um teor negativo, logo dá uma sensação de desespero e medo do desconhecido. Mas aqui o sentido é outro. É você se deixar sair do roteiro, caminhar sem rumo e conhecer outros parâmetros que podem te surpreender e encantar.

Estive em Dublin em Maio/Junho deste ano, e acabei pegando um ônibus errado vindo do aeroporto quando voltei de Londres. Fui parar em um lugar que a princípio era desconhecido pra mim. Já era tarde, perto de 23hs e eu estava na rua, sozinha, com uma mala de bordo tentando voltar pra casa. A maior dificuldade naquele momento era entender o sotaque do motorista do ônibus, e tentar reconhecer o lugar que eu estava, no escuro, pra achar o rio e voltar pra casa. O medo bateu, o desespero também. Não tinha internet e não tinha como avisar ninguém. Logo pensei ‘tem tanto brasileiro aqui, vou esperar ouvir alguém falando português na rua e pedir informação’. Mas sabe aquele medo de São Paulo que não importa onde vamos, carregamos conosco? Pois bem.

Várias pessoas falando português passaram por mim e eu não parei ninguém pra perguntar. Comecei a reconhecer o lugar. Tinha passado ali só uma vez desde que tinha chegado na Irlanda. Em Dublin não é difícil andar, não achei a cidade tão grande, e a casa da minha amiga onde eu estava hospedada era bem localizada. ‘Só seguir o rio até o final e virar à esquerda’. Precisava encontrar o tal Rio Liffey.

Ha'penny Bridge sobre o Rio Liffey, em Dublin.

Ha’penny Bridge sobre o Rio Liffey, em Dublin.

Por uma boa memória, reconheci o lugar e encontrei o rio. Naquele momento era só atravessar a ponte e pegar o ônibus no sentido certo que iria até o final e me deixaria na rua de casa.

Moral da história: Não acreditei que poderia me virar sozinha naquele momento de desespero. Onde eu estava? Como poderia voltar pra casa? Nessas horas não tem inglês suficiente que passe pela sua cabeça pra conseguir perguntar muito menos conseguir entender a resposta. Me virei. Consegui chegar. Superei um medo e um desespero momentâneo. Me deixei me perder e me encontrei. A surpresa foi a melhor de todas: A segurança e autoconfiança me mostraram o caminho certo. A boa memória ajudou também. Portanto, deixe-se perder para se encontrar e se surpreender. O imprevisível também é uma ótima experiência.

Ana Luna

Fez intercâmbio, trabalha com turismo, viajou por aí e queria um espaço pra dividir suas experiências pelo mundo! Também é colaboradora do Maroon 5 Brasil

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4 Resultados

  1. 22/04/2017

    […] cidade é bem tranquila de andar, e por isso consegui voltar pra casa quando me perdi (clique aqui para ler sobre isso). O rio Liffey me ajudou a entender onde eu caminhava, juntamente com o Google Maps. Sobre compras, […]

  2. 09/12/2018

    […] cidade é bem tranquila de andar, e por isso consegui voltar pra casa quando me perdi (clique aqui para ler sobre isso). O rio Liffey me ajudou a entender onde eu caminhava, juntamente com o Google Maps. Sobre compras, […]

  3. 06/05/2020

    […] a pé. Por ser tranquila, consegui voltar pra casa quando me perdi por lá voltando do aeroporto (clique aqui para ler sobre isso). O rio Liffey me ajudou a entender onde eu caminhava, juntamente com o Google […]

  4. 10/05/2020

    […] triplicou, e não é nada estranho ouvir as pessoas conversarem em português nas ruas, como contei neste post de quando viajei para Dublin. Esse número crescente se dá pela alta demanda de trabalho, ou seja, os estudantes que vão […]

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